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terça-feira, 29 de março de 2011

Estamos sempre a aprender

A árvore da manga é:

a)mangueiro

b)mangueira

sexta-feira, 4 de março de 2011

quarta-feira, 2 de março de 2011

Lembrar é saber

Depois de Gaibéus, de Alves Redol, Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes, é considerada uma das primeiras obras romanescas filiadas numa estética neo-realista, numa primeira fase de afirmação deste movimento literário. Denunciando as duras condições de vida das crianças que trabalham nos telhais para sobreviver, Esteiros apresenta-nos um protagonista colectivo, os "filhos dos homens que nunca foram meninos", como Sagui, Maquineta, Guedelhas, Gaitinhas e Gineto, na sua luta trágica contra a miséria e contra a opressão desumana de uma sociedade submetida à exploração capitalista.

O discurso narrativo é estruturado pela passagem das estações, o que remete para a dependência da actividade económica relativamente à Natureza, impondo à classe que vive do fabrico de tijolos o emprego ou o desemprego, mas também para uma circularidade temporal que aparentemente não é gérmen de mudança, sendo a Natureza espectadora impassível de uma história humana marcada pela gradação crescente de situações disfóricas. Com efeito, as crianças e algumas personagens individualizadas descrevem um pequeno percurso de vida, onde a desgraça se multiplica, sem esperança e sem remédio, capítulo após capítulo, culminando com situações de morte, prisão, embriaguez, loucura, fazendo eco de um conflito surdo de classes que se institui de forma hierarquizada: Zé Vicente, pequeno tiranete dos telhais, é, ele também, oprimido até à falência pelo proprietário dos terrenos, o Sr. Castro, sendo, como a gente dos esteiros, crianças e adultos, sugado por interesses económicos.
As únicas notas de mudança que indiciam a possibilidade de tomada de consciência e consequente libertação da classe explorada, são, na opinião de Isabel Pires de Lima (prefácio à 5.a edição, 1981), a solidariedade que une os garotos e a partida de Gaitinhas, no fim do romance, símbolo da "busca dessa alvorada libertadora".
No âmbito de uma estética romanesca neo-realista, Esteiros privilegia, numa tentativa de representação verosímil da dinâmica social e não perdendo de vista a acessibilidade da escrita, a objectividade, a frase simples e o discurso directo, dando, sempre que possível, a voz às próprias personagens.
Infopédia

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Pura e simplesmente desconhecia - a linguagem dos "pês"

Portugal
PORPORTUPUGUÊSPÊS

Ainda MAIS presente na Biblioteca Nacional

A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
As árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.

Sophia de Mello Breyner Andressen

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Eugénio de Andrade

AS PALAVRAS
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam;
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

DESPERTAR
É um pássaro, é uma rosa,
é o mar que me acorda?
Pássaro ou rosa ou mar,
tudo é ardor, tudo é amor.
Acordar é ser rosa na rosa,
canto na ave, água no mar.

METAMORFOSES DA CASA
Ergue-se aérea pedra a pedra
a casa que só tenho no poema.

A casa dorme, sonha no vento
a delícia súbita de ser mastro.

Como estremece um torso delicado,
assim a casa, assim um barco.

Uma gaivota passa e outra e outra,
a casa não resiste: também voa.

Ah, um dia a casa será bosque,
à sua sombra encontrarei a fonte
onde um rumor de água é só silêncio.

OUTRO FRAGMENTO
Entre obscuras sementes a mão recolhe
a luz dos lódãos:
as suas águas são a pedra do crepúsculo.

Entre a festa e a morte
que fizeste da manhã? - pergunta
insiste o vento.

Com um rumor de neve ou de animal
moribundo fiz o anel e a casa:
assim o deserto cresce sobre o coração.

CAVATINA
Obstruído o caminho da transparências
ó me resta reunir os fragmentos do sol nos espelho
se com eles junto ao coração
atravessar indiferente a desordem matinal dos mastros.

Quando mais envelheço mais pueril é a luz
mas essa vai comigo.

FAZ UMA CHAVE...
Faz uma chave, mesmo pequena,
entra na casa.
Consente na doçura, tem dó
da matéria dos sonhos e das aves.

Invoca o fogo, a claridade, a música
dos flancos.
Não digas pedra, diz janela.
Não sejas como a sombra.

Diz homem, diz criança, diz estrela.
Repete as sílabas
onde a luz é feliz e se demora.

Volta a dizer: homem, mulher, criança.
Onde a beleza é mais nova.

JÁ NÃO SE VÊ O TRIGO...
Já não se vê o trigo,
a vagarosa ondulação dos montes.
Não se pode dizer que fossem contigo,
tu só levaste esse modo

infantil de saltar o muro,
de levar à boca
um punhado de cerejas pretas,
de esconder o sorriso no bolso,

certa maneira de assobiar às rolas
ou então pedir um copo de água,
e dormir em novelo,
como só os gatos dormem.

Tudo isso eras tu, sujo de amoras.

O SORRISO
Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Palavra do dia: dendrolatria

(dendro + latria)

s.f. Amor às árvores; culto das árvores.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A saber da palavra

nefelibatice
nefelibata + -ice)
s. f.
Dito ou acto! próprio de nefelibata.
OK
nefelibata
(grego nephéle, -es, nuvem + -bata)
adj. 2 gén. s. 2 gén.
1. Que ou pessoa que anda ou vive nas nuvens.
2. Que ou quem é muito distraído.
3. Diz-se de ou escritor, geralmente excêntrico, que faz prosa e versos nebulosos.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Autora do mês (23/10/2010)

Aqueles olhos aproximam-se e passam.
Perplexos, cheios de funda luz,
doces e acerados, dominam-me.
Quem os diria tão ousados?
Tão humildes e tão imperiosos,
tão obstinados!

Como estão próximos os nossos ombros!
Defrontam-se e furtam-se,
negam toda a sua coragem.
De vez em quando,
esta minha mão,
que é uma espada e não defende nada,
move-se na órbita daqueles olhos,
fere-lhes a rota curta,
Poderosa e plácida.

Amor tão cheio de Amor,
Que sensível és…
Sensível e violento, apaixonado.
Sensível e violento, apaixonado.
Tão carregado de desejos!

Acalmas e redobras
e de ti renasces a toda a hora.
Cordeiro que se encabrita e se enfurece
e logo recai na branda impotência.

Canseira eterna!
Ou desespero, ou medo.
Fuga doida à posse, à dádiva.
Tanto bater de asas frementes
tanto grito e pena perdida…
E as tréguas, amor cobarde?
Cada vez mais longe,
mais longe e apetecidas.
Ó amor, amor,
que faremos nós de ti
e tu de nós?

Irene Lisboa

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dicionário alternativo I

AZARCÃO - Diz-se de uma pessoa com muita falta de sorte.

BARBASCO - Bar que se encontra na fronteira Franco-Espanhola.

BARBUDA - Bar onde se pratica o budismo.

BIGAMIA - Acto de roubar duas vezes.

BISCOITO - Acto sexual repetido.

BOLBO - Filial portuense da conhecida marca de automóveis suecos.

BOMBARATO - Não existe, ou é bom e caro, ou barato e fraco.

BORDADURA - Extremidades rijas.

DETERGENTE - acto de prender indivíduos suspeitos.

domingo, 17 de outubro de 2010

Eu Ele e Ela

A paixão seguindo o ESCRITOR
Só com alguns me apaixono pelas suas minhas palavras.

A paixão seguindo a ESCRITORA
A palavra é como uma maçã.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A cada um o seu dia...

flor
bicicleta
concha
pedra

canela
baunilha

homem
bonito

olhar
cobiçado

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Publicação

- É chegada a minha hora,

balbuciou a velha, que se encontrava havia mais de três meses no seu leito, diga-se mais morta do que viva, com forças apenas para aquelas palavras, como se as tivesse poupado para, desse modo, dar por anunciado o fim da mulher mais beata que o mundo alguma vez conhecera, estranha pronúncia foi aquela, a penúltima, uma cabala de uma morte evidente, porque a última da morte ninguém sabe, mas todos sabiam que era sem dúvida o adeus esperado da mais abnegada pessoa que a igreja e a sociedade alguma vez baptizaram naquelas ilhas abandonadas, tratava-se da mulher mais desinteressada pela vida que a vida alguma vez recebera, aquela que entre todas este mundo menos amara, aquela que mais desprezara o corpo e os seus prazeres, a mais temente a Deus de todas as criaturas, a grande pedra da igreja local, a catequista a tempo inteiro e por todo o tempo da diocese, a mais admiradora de Jesus que nenhuma outra cristã, a conhecedora sem par das Escrituras, a servidora ímpar dos pobres, o exemplo absoluto dos fiéis, mulher que, para além de dedicar toda uma vida a preparar-se para um dia subir ao céu e viver à direita dos apóstolos, também era uma estudiosa incomparável da morte, de todas as formas da morte, porque queria saber bem como morrer para poder alcançar a vida eterna, o que lhe dera conhecimentos inéditos e lhe permitira decifrar todas as etapas por que passam todos os mortos, e dizia que as fases da moribunda são seis, a Dúvida, o Desespero, o Apego, a Impaciência, que é o momento da cólera, o Orgulho, e o Abandono, assim bem contadinhas, mas isso não lhe fazia ter menos medo à morte, mesmo crente da sua inabalável esperança de ser ressuscitada de entre os mortos no dia do Juízo Final, objectivo para o qual dedicara todos os seus anos de menina, a sua mocidade, a sua virgindade, a sua irmandade, o seu corpo, e a sua implacável devoção de freira, tudo sacrificara para um dia morrer bem, de tal modo que, quando ela emitiu a custo a frase É chegada a minha hora, as netas que com ela estavam interpretaram aquilo como sendo finalmente a renúncia da vida e a aceitação da morte, e, na verdade, era o que ela queria dizer, embora seja de um paradoxo abissal o desapego à vida e o medo à morte, mas, para a glória da sua coragem, a velha acabara de pronunciar a frase, dita entre os dentes e o delírio, é verdade, mas com a última das coragens e, nesse momento, ali ante as suas netas, sentiu-se a ser elevada às alturas, que uma nuvem a recebia, ocultando-a, e ela então não se lembraria de mais nada, como é natural, entrara já no túnel da morte e qualquer lembrança nessa hora desencadeia um apego atroz à vida,
- Valha-nos Deus, chamem o médico, chamem o médico,

gritaram as netas agarradas à cadeira onde vinham passando o tempo, revezando-se havia três meses, pois a velha nunca quisera estar só e arranjou aquele assento de cabeceira que, na linguagem da morte, se chama cadeira de acompanhamento, coisas que ela aprendera no livro do padre ortodoxo Jean Yves Leloup, ao decidir que queria ter o mesmo trato que ela sempre dispensara aos moribundos que acompanhava em todas as suas fases, sete a saber, a Compaixão, a Invocação-Evocação, a Unção, a Escuta, a Bênção, a Comunhão Eucarística e a Contemplação,

- Não chamam nada, na minha morte mando eu,

Novíssimo Testamento de Mário Lúcio Sousa