sexta-feira, 26 de junho de 2009

Entre papeis

dois versos de amor

«Oh, que não sei de nojo como o conte!…
Que, crendo ter nos braços quem amava,
Abraçado me achei c’um duro monte
De áspero mato e de espessura brava.
Estando c’um penedo fronte a fronte,
Que eu pelo rosto angélico apertava,
Não fiquei homem, não, mas mudo e quedo,
E junto dum penedo outro penedo!

«Ó Ninfa, a mais fermosa do Oceano
Já que minha presença não te agrada,
Que te custava ter-me neste engano,
Ou fosse monte, nuvem, sonho ou nada?
Daqui me parto, irado e quase insano
Da mágoa e da desonra ali passada,
A buscar outro mundo onde não visse
Quem do meu pranto e do meu mal se risse.

Luís de Camões

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