quarta-feira, 9 de junho de 2010

Lewis Carroll

Ao longo da tarde dolente
Deslizamos calmamente,
Pequenos braços manobrando
Que remam sem convicção,
Pequenas mãos fingindo em vão
Ir nosso curso comandando.

Ah, Tríade cruel! A esta hora,
Neste tempo de encantar,
Pedir uma história agora,
Sem ar para mover uma pluma;
Mas de que serve reclamar
Contra três vozes à uma?

Grita a prima petulante:
- Comecemos sem demora!
A Secunda mais amena
Pede que haja disparate;
Enquanto a Tertia recomenda
Que a moderação se acate.

Então num silêncio imprevisto,
Perseguem na imaginação
A criança de sonho vagueando
Num reino de maravilha sem par,
Com bestas e aves falando;
E quase chegam a acreditar.

Mas os poços da fantasia
Acabam sempre por secar;
E o contador de histórias, cansado
Tentou escapar como podia;
- O resto amanhã; - Já é amanhã!
Gritaram as vozes com afã.

Assim nasceu a história do País das Maravilhas:
Assim, um por um, lentamente,
Se desfiaram seus estranhos eventos –
E agora a história acabou,
E remamos para casa alegremente
Debaixo do sol que baixou.

Alice! Uma história tão pueril!
E, como uma mão gentil,
Guardemo-la onde os sonhos de infância
Se enlaçam no coração da memória,
Como a murcha grinalda do viajante
Colhida numa terra distante.

As Aventuras de Alice no País das Maravilhas e Alice do Outro Lado do Espelho
Tradução e notas de Margarida Vale de Gato
Bertrand
14€

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